Ele pôs um punhado de barro sobre outro, até que uma forma
sem vida jazesse sobre o solo...
Estava tudo em silêncio quando o Criador retirou de si mesmo
algo que ainda não fora visto. “Chama-se ‘escolha’. A semente da escolha”.
A criação ficou em silêncio, fitando a forma sem vida.
Um anjo falou:
- Mas
e se ele...
- Se
ele escolher não amar? – completou o Criador.
– Venha, vou mostrar-lhe.
Livres do hoje, Deus e o anjo adentraram o reino do amanhã.
O anjo perdeu o fôlego diante do que viu. Amor espontâneo.
Devoção voluntária. Ele nunca vira algo assim... O anjo permaneceu sem fala,
enquanto atravessavam séculos de repugnância. Ele jamais vira tanta sujeira.
Corações maus. Promessas rompidas. Lealdades esquecidas...
O Criador avançou no tempo, cada vez mais adiante no futuro,
até chegar junto a uma árvore. Uma árvore que seria transformada em um berço.
Ele até pôde sentir o cheiro do feno que o cercava...
- Não
seria mais fácil não plantar a semente? Não seria mais fácil não conceder a
escolha?
- Seria!
– respondeu devagar o Criador.
– Mas, remover a escolha é remover o amor.
Eles entraram novamente no jardim. O Criador olhou
seriamente para a criação de barro. Uma inundação de amor cresceu dentro dele.
Ele morrera pela criação antes de havê-la feito. O vulto de Deus curvou-se
sobre a face esculpida e soprou. O pó moveu-se nos lábios do novo ser. O peito
levantou, rachando a lama vermelha. As bochechas encarnaram. Um dedo mexeu-se.
E um olho se abriu.
Porém, mais inacreditável que o movimento da carne foi o
agitar-se do espírito. Aqueles que puderam ver o inusitado arfaram.
Talvez tenha sido o vento o primeiro a dizer. Talvez o que
as estrelas viram naquele momento seja o que as tem feito cintilar desde então.
Talvez tenha ficado para um anjo o cochichar:
- Parece
com... parece demais com... é Ele!
O anjo não falava da face, das feições ou do corpo. Ele
estava olhando dentro – para a alma.
- É
eterna! – ofegou um outro.
Dentro do homem Deus havia posto uma semente divina. A
semente de si mesmo. O Deus de poder havia criado o mais poderoso da terra. O
Criador criara não uma criatura, mas outro criador. E aquele que escolhera amar
criara um que podia retribuir este amor.
Agora a escolha é nossa.
Texto: Max Lucado